Neste dia 20 de novembro é necessário
refletir sobre o sistema racista persistente no Brasil
O Dia da Consciência Negra
celebra a luta e resistência do movimento negro em um país que, mesmo fruto da
miscigenação e diversidade, ainda sofre com índices elevados de discriminação e
injúria racial. O grande líder dos quilombos no Brasil, Zumbi dos Palmares,
morreu em uma emboscada no dia 20 de novembro de 1695, tornando-se um grande
símbolo da luta contra a escravidão. Por esse motivo, essa foi a data escolhida
para honrar sua memória e contribuição ao movimento, ao mesmo tempo que o
caminho e luta pelo fim do racismo segue com um longo caminho pela frente.
A data foi estabelecida em
2003 com um projeto de Lei sancionado somente em 2011 pela então presidente
Dilma Rousseff, na Lei 12.519/2011. Esse foi um grande avanço na discussão
racial no Brasil mas, mesmo assim, o cenário ainda está longe de ser justo e
igualitário. Segundo dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, divulgados em 2020, 54% da população brasileira é composta por pessoas
negras. Mesmo assim, a diferença de lugares ocupados dentro da sociedade é
gritante e preocupante, principalmente no mercado de trabalho.
Em 2019, o salário médio de
trabalhadores negros foi 45% menor em relação a profissionais brancos, segundo
dados do IBGE. Dentro desse cenário, a situação de mulheres negras é ainda mais
preocupante, com média salarial 70% menor em relação às mulheres brancas. Mesmo
com níveis iguais de escolaridade, os profissionais brancos são privilegiados
em valor de salário.
Os dados estudados hoje são
reflexos do racismo histórico presente no Brasil desde o momento de seu
descobrimento. O país foi o último da América Latina a abolir a escravidão e,
quando feito, não existiu nenhum tipo de amparo e proteção aos escravos
libertados. Por isso, os homens foram deixados a margem da sociedade, enquanto
as mulheres continuavam a servir os fazendeiros em troca de remuneração mínima,
comida ou um teto para morar.
Hoje, à medida que a sociedade
avança, o movimento antirracista conquista espaços e movimentos, como o Black
Lives Matter, traduzido livremente para o português Vidas Negras Importam, que
é pauta ao redor de todo o mundo e já reuniu milhões de manifestantes em seus
atos de protesto contra crimes de racismo e brutalidade policial. No Brasil,
além do Dia da Consciência Negra existem outras datas no calendário para
colocar em evidência essa luta, como o Dia Internacional de Luta pela
Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março, e o Dia da Mulher
Negra, Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho com foco na
luta das mulheres.
“Quando
a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com
ela”, afirmou a professora e ativista norte-americana Ângela Davis em um
encontro sobre feminismo negro. Isso porque a mudança acontece pela base da
pirâmide e a força da mulher negra é capaz de gerar mudanças incisivas o
suficiente para transformar um sistema. Muitas das mulheres assistidas pela
APAM ainda sentem na pele os impactos do racismo e, por isso, o nosso trabalho
é para que elas se sintam acolhidas e possam se reerguer para fazer parte da
mudança, que começa com a conscientização.
Por Luciana Alves,
Jornalista voluntária da APAM.
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