Igualdade de gênero começa na família
Em 6 de setembro comemora-se o Dia Internacional de
Ação pela Igualdade da Mulher; relatório da ONU mostra que ainda há muito a ser
feito
"Metade
da queda na mortalidade infantil nas últimas duas décadas pode ser atribuída ao
aumento no número de mães que estudaram. E as mães que estudaram têm mais do
que o dobro de possibilidade de mandar os filhos para a escola. A educação das
meninas pode ter efeitos transformadores na saúde, no empoderamento e no avanço
econômico das mulheres”, afirma Melinda Gates em seu livro O momento de voar:
Como o empoderamento feminino muda o mundo, lançado em maio deste ano. Esta
afirmação é fruto de muitos anos de trabalho de Melinda como co-presidente da
Fundação Bill e Melinda Gates, que defende a causa feminina. Há mais de 20 anos
Melinda trabalha em prol da valorização das mulheres em todo o mundo,
principalmente nos países mais pobres.
É verdade
que ao longo das últimas décadas, houve avanços nos direitos das mulheres, mas
ainda estamos longe na equidade de gênero dentro das famílias, nos ambientes de
trabalho, na política e na sociedade, como um todo. O novo relatório da ONU
Mulheres, publicado no último mês de junho, com o título “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo em
mudança”, mostra que as famílias
podem ser espaços de cuidado, mas também de conflito, desigualdade e, com
demasiada frequência, de violência. Atualmente, 3 bilhões de mulheres e meninas
vivem em países onde o estupro no casamento não é explicitamente tipificado
como crime. Mas a injustiça e as violações também assumem outras formas. Em um
em cada cinco países, as meninas não têm os mesmos direitos de herança como os
meninos, enquanto que em outros (especialmente em 19 países), as mulheres são
obrigadas por lei a obedecer a seus maridos. Cerca de um terço das mulheres
casadas que vivem em países em desenvolvimento dizem que têm pouco ou nada a
dizer sobre seus próprios cuidados de saúde.
"É
marca de uma sociedade atrasada – ou em retrocesso – que as decisões para as
mulheres sejam tomadas pelos homens. É isso que está acontecendo agora nos
Estados Unidos. Essas políticas não existiriam se as mulheres estivessem
decidindo por si mesmas.” A afirmação feita por Melinda Gates deixa claro que a
desigualdade de gênero não é um problema apenas dos países em desenvolvimento.
Ela persiste também em países desenvolvidos, em lares pobres e ricos, não
escolhe nacionalidade ou condição social.
Mundo corporativo
A
incorporação das mulheres no mercado de trabalho, segundo dados do relatório da
ONU Mulher, continua a crescer significativamente, mas o casamento e a
maternidade reduzem as taxas de participação no mercado de trabalho e,
portanto, de renda e benefícios associados à participação. No mundo inteiro,
pouco mais da metade das mulheres com idades entre 25 e 54 anos são
economicamente ativas, proporção que sobe para dois em cada três no caso de
mulheres solteiras. Por sua vez, 96% dos homens casados estão economicamente
ativos. Uma das principais causas destas desigualdades é que as mulheres
continuam a realizar trabalho doméstico triplo e cuidados não remunerados do
que os homens.
No Brasil,
uma iniciativa recente de 100 grandes empresas tem como objetivo diminuir os
números de violência doméstica, que ainda existe em muitos lares. No documento
assinado, na última semana de agosto em São Paulo, as empresas se comprometem a
formar uma coalizão pelo fim da violência contra mulheres e meninas. Na
prática, CEOs e representantes de grandes organizações se dispuseram a
construir meios de apoio a funcionárias e colaboradoras vítimas de violência
doméstica e, também, a transformar a cultura dentro do próprio ambiente
corporativo.
Uma
primeira reunião está prevista para setembro e, em outubro, começará um mutirão
de campanha dentro das empresas, seguido de treinamentos e capacitação dos
funcionários indicados pelas empresas participantes do acordo. As mulheres
representam 60% da força de trabalho nacional. Além do impacto que a violência
produz na vida delas, as agressões também influenciam a capacidade de trabalho,
o estresse e o salário em comparação a mulheres que não sofrem agressões. Uma
em cada cinco faltas no trabalho é motivada por agressões ocorridas no ambiente
familiar.
De acordo
com o relatório da ONU, garantir que as famílias sejam instâncias de igualdade
e justiça não é somente um imperativo moral, mas também essencial para a
realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mais
ampla do mundo destinada a garantir o progresso humano.
"Quando enviamos uma menina para a escola, a boa ação não termina
nunca: continua por gerações, levando progresso a cada esfera pública, desde a
saúde até o ganho econômico, a igualdade de gênero e a prosperidade nacional.
Eis aqui apenas alguns dados que conhecemos pelas pesquisas. Uma menina na
escola resulta em maior nível de alfabetização, salários mais altos, maior
crescimento de rendimentos e agricultura mais produtiva.", afirma Melinda
Gates.
......................................
Tendências apontadas no relatório da ONU Mulher
Entre as
tendências observadas, destacam-se:
– A idade
do casamento aumentou em todas as regiões, enquanto as taxas de fertilidade
diminuíram e as mulheres ganharam autonomia econômica.
–
Globalmente, pouco mais de um terço de todas agregadas e agregados familiares
(38%) são constituídos por casais com filhas e filhos; famílias extensas também
são muito comuns, o que inclui outros e outras parentes e representam 27% do
total.
– A
grande maioria das famílias com apenas uma pessoa responsável (representando 8%
de todos os agregados familiares) é chefiada por mulheres, que têm muitos
problemas para conciliar o trabalho remunerado, criar os filhos e filhas e o
trabalho doméstico não pago.
[Texto:
Luciana Alves]
Nenhum comentário:
Postar um comentário